Dei muitas voltas para escolher o tema da primeira publicação aqui, então resolvi começar no lugar mais óbvio, no começo de toda boa refeição. Que palavra linda ‘aperitivo’, né? Significa instigar o apetite, mas ah como é fácil é passar dessa linha tênue. Há quem fale que o aperitivo é apenas uma etapa de uma refeição, e pode até ser, mas que visão simplista.
Quando era adolescente fui iniciada na arte do aperitivo. Aos domingos, minha família recebia visitas em casa, e nos preparativos para o almoço cada um tinha uma função. Meu pai me convocava para ajudar com a picada - aperitivo típico argentino, que é simples, mas não deixa a desejar. Meu pai fazia a seguinte seleção de queijos: um cremoso, um duro e um que tinha sobrado da semana. O salame, feito na cidade dos meus pais e trazido clandestinamente por avião, tinha uma espessura ideal para se desmanchar na boca. Meu pai ficava olhando de longe, cantando as regras que ele gostava de repetir todas as semanas e eu gostava de aprender, e assim fazia, prestando atenção a cada detalhe. Era todo um ritual fazer, e todo um ritual comer porque nós, que preparávamos o aperitivo, beliscávamos antes que chegassem os convidados para provar tudo e conversar sobre o que gostávamos mais - e essa era a melhor parte.
Rituais são como celebrações que marcam momento - muitas vezes um antes e um depois. No ritual do aperitivo entram em cena duas coisas que são tão costumeiras quanto inconstantes: a ocasião (para quem, e porquê) e as provisões que temos em casa. Por isso nenhum aperitivo é igual ao outro, um pão com manteiga não é menos aperitivo do que um banquete de patês, azeitonas e nozes.
Como um bom ritual pede, é fundamental preparar o ambiente e a escolha da trilha sonora é que dá vida à ocasião. Enquanto você canta e dança disfarçadamente, abra a geladeira já pensando no que você vai preparar.
Os aperitivos têm isso, te empurram gentilmente à beira da criatividade enquanto que você navega entre o que têm ao seu alcance, e o que gostaria de ter.
Não tem certo ou errado para um aperitivo, mas tem escolhas, então vou te contar como fazer o melhor delas. Primeiro de tudo, você não precisa gastar muito dinheiro em produtos caros, apenas não sirva algo que não gostaria de comer. Simplicidade é um luxo, mas variedade faz a experiência mais interessante, e com dois ou três elementos já dá para brincar. Via de regra, pense nos contrastes. Texturas diferentes, sabores suaves com acidez, cores.
Um Aperitivo, 2017.
Por fim, o toque final, o mais importante e subestimado: a apresentação. Se come com os olhos. Coloque seu aperitivo todo charmoso num prato limpo, e faça o favor tire tudo que for plástico do meio. E sim, faça tudo isso mesmo se for só para você. Sente frente a frente com seu aperitivo e pode começar: prove cada elemento sozinho, depois combinado, depois inverta as combinações. Vá trabalhando aquele drink, jogando conversa fora, não há pressa.
Onde é o limite entre o aperitivo e o jantar? Eu não sei. Mas sei que não se trata do comer em si - de matar a fominha - e sim do ritual que começa ao abrir a geladeira numa noite qualquer. E voltando à seleção de queijos do meu pai: no final das contas, as escolhas de cada um, são de cada um. E é isso que faz do aperitivo esse ritual tão íntimo, tão costumeiro, tão fundamental.
Tente você mesma(o), depois você me conta.
Zai.
Deixo aqui a playlist perfeita para aperitivos, feita pelo gênio da música brasileira, Bill Junqueira.
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Que delicia de leitura, deu água na boca e muita vontade de fazer um encontro pra montar uma mesa cheia de aperitivos!
Ameiiii, quanto amor nos detalhes ❤️